Fazer jogos é contar histórias, conte a sua.

Narrativando
3 min readNov 11, 2020

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Desde que entrei nesse mundo de game jams e gamedevs percebi que existe uma clara tendência das pessoas de buscar inspiração nos jogos da sua infância ou da sua preferência e não há nada de mal nisso. Esse fenômeno é muito comum em toda área em que haja a necessidade de se criar uma história. Um narrador novo de RPG provavelmente vai tentar emular a mesa na qual mais se divertiu como jogador, um roteirista novato vai recorrer as suas histórias favoritas e assim por diante. Essa é a tendência inicial na qual a maioria das pessoas na área de criação de histórias e mundos passam. Eu lembro que em uma feira de fanzines na qual eu participava como roteirista de 3 histórias, incluindo um hentai (sim, um hentai com história, rs) eu contei ao todo uns cinco fanzines com personagens estilo shounen jump, com poderes especiais, totalmente edgy lutando torneios de luta contra vilões invencíveis, histórias claramente baseadas em Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Mas e depois?

Cenário de Clara’s Journey, jogo que se passa basicamente na vila onde eu nasci. Arte da Cecihoney . Sunblack Game Studio 2020 ₢

Com um pouco de tempo e estudo vem a maturidade e a descoberta de que se pode escrever sobre qualquer coisa desde que se faça sentido. Então algumas pessoas se voltam para sagas espaciais intergalácticas, viagens no tempo e na história, quedas de impérios, a jornada do herói em busca de redenção e outros tantos temas e estruturas narrativas. Mas e você? Já parou pra pensar na sua história? Naquela época que trabalhava como office boy pra juntar dinheiro pra comprar jogo pro super nintendo ou alugar donkey kong? Ou quando teve que superar a vergonha e a timidez pra dançar quadrilha na festa junina? Geralmente achamos que essas nossas histórias são sem graça e não merecem serem desenvolvidas ou transformadas em algo jogável, legível ou vendável. Mas será mesmo? Será que a adição de um elemento fantástico ou outro aqui e ali num pode fazer com que surja um grande roteiro de aventura? O office boy que teve que enfrentar uma gangue de bairro pra recuperar sua bicicleta antes do almoço a tempo de pagar os boletos do chefe no banco? A menina que superou sua timidez quando descobriu que dançar era divertido.

Essa personagem ai sou eu, no jogo “A way to find you”. Mais uma arte maravilhosa da Cecihoney que também é personagem. Sunblack Game Studio 2020 ₢

Veja bem, um dos motivos do grande sucesso dos mangás está no fato de que ao contrário dos comics americanos onde os personagens são musculosos de corpos perfeitos e o tempo todo agem de forma totalmente heróica ou maligna, sem defeitos ou só com defeitos,( claro há exceções) os personagens de mangá são pessoas como nós, com defeitos e virtudes. Goku é o ser mais forte do universo, mas é glutão e gosta de pescar, também não é o melhor pai do mundo. Então, meu conselho é, conte sua história. Se você for de classe baixa, for uma minoria, sofreu algum tipo de preconceito é ainda mais importante que você faça isso. Pra que possa inspirar outras pessoas como você e dar mais cores a seja qual indústria criativa você pertencer.

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Narrativando

Melina Juraski — Game/ Narrative Designer, Roteirista, Narradora profissional, Escritora de RPG, Geógrafa e Publicitária.